segunda-feira, 23 de março de 2009

Crise?

Tenho muita pena por toda aquela gente mais velha do que eu (eu também não sou novo, diga-se), que nos tempos áureos da suas juventudes não podiam ficar à porta de um Coliseu dos Recreios à espera do seu ídolo musical, aquele artista de quem se ouvia a mais recente durante dias e dias sem fim.
Isto porque antigamente o tão afamado artista ganhava uma fortuna por um milhares/milhões de CD's, despachava T-shirt's, lenços e outros materiais próprios e quase não se dignava a aparecer em público, cada concerto dado num certo país era quase um feriado nacional oficioso.


Todo aquele "hype" era sem dúvida originado pelas grandes editoras, que ao jeito da expressão "little fish, big fish", coordenava todo o trajecto musical de uma banda ou artista, desde o seu primeiro concerto no bar ali ao lado até à primeira aparição televisiva. O marketing era (não que agora não o seja) esmagador e vendiam-se álbuns como se vendiam ervilhas. O artista, que recebia uma dízima parte dos proveitos, contentava-se com a fortuna e simplesmente fazia o que se pensava ser o ideal para todos. Nós que fizemos, eles que venderam e os outros que compraram. Parecia uma fórmula de sucesso.


Mas agora que um álbum, ou um outro projecto musical se encontra à distância de um clique, as coisas mudaram e drasticamente. O artista, que admitamos, merece ser compensado pelo seu trabalho, viu-se sem soluções. E basicamente viu-se sem dinheiro. Isto porque ninguém vai comprar o 5º álbum dos Rolling Stones (a não ser que realmente o queiram, obviamente) quando podia aproveitar o dinheiro, que já de si é pouco, para outra coisa qualquer. Os rendimentos de longo prazo do artista/editora foram a zero, levando principalmente o artista a ter que repensar a estratégia, já que as editoras, corporativistas como ainda querem ser, parecem ainda viver num oásis, cuidadosamente construído para o efeito.


De entre várias estratégias, não consigo escolher uma que considere resultar em pleno, afinal de contas, estamos a falar da solução para um problema megalómano. E uso a palavra megalómano porque o problema, que pensamos estar resolvido para o simples ouvinte é bem mais complicado.
Distribuir gratuitamente pela internet, de um modo oficial o novo trabalho musical como fizeram os Radiohead, ou distribuir um álbum em conjunto com um jornal diário como fez o Prince são apenas testes à nossa inteligência, ao nosso bom senso, é uma pequena picada para saber qual a reacção global a todo este novo estado de ser da música. Sim, porque estamos aqui a falar de música, a coisa que mais gostamos (eu pelo menos), e sinceramente acredito que nós ouvintes merecemos acima de tudo qualidade.

E qualidade com certeza que não nos falta, basta ligarmo-nos aos sites, blogs e youtube’s da cena musical para ficarmos a par de tudo, as notícias frescas, as novidades, as sensações. Bandas como os arctic monkeys que eu orgulhosamente comento que os via na MTV2 britânica com a única musica editada gravada em vídeo muito antes de serem o que são agora, começaram precisamente pelo Myspace, uma das muitas redes sociais, e do nada construíram o que agora parece ser um caminho talhado para o sucesso.

E exemplo como estes começam a ser muitos, porque o acesso à internet e a procura voraz por informação transformam ainda mais num mercado aberto o mundo musical. Já não bastava ser possível o descarregar gratuito/ilícito da música, como agora temos também toda a gente a acreditar que é possível ter-se sucesso. Por um lado o mercado está mais aberto, consegue chegar a todo o lado, e descobrem-se verdadeiras pérolas, que outrora seria impossível.

Por outro, a informação consegue ser tanta que mesmo para o mais aficionado se torna virtualmente impossível descobrir tudo o que lhe possa agradar , mas acima de tudo acaba por não ter tempo para verdadeiramente apreciar o que já conhece. É novamente uma espécie de saturação, embora eu ache, pesando os prós e contras, que trata-se de uma saturação bastante positiva, que vem dar-nos constante oportunidades de descoberta, e nem precisamos de estar muito atentos.

Se para o ouvinte o problema parece estar resolvido, o que precisa de fazer o artista para simplesmente ser ressarcido de alguma maneira? Não sejamos hipócritas ao ponto de chamar o artista de oportunista, afinal ele trabalhou para nos agradar e também precisa de sobreviver.

A resposta mais comum por parte do músico reflectiu-se naquilo que ele deveria melhor saber fazer, o concerto. Agora, as tabelas também já incluem o quanto se facturou na última digressão e o quanto se pensa facturar na próxima, e até os contratos com editoras se fazem baseados no números de tournées se vai fazer. Já podemos comprar um toque para o telemóvel mesmo antes da música sair realmente para o mercado, já se vende música avulso, como se peixe se tratasse. E o artista, que até podia ter um conceito para o novo álbum, vê-se novamente rendido ao marketing, e a música volta a ser pontapeada para segundo plano.

E com isto tudo vamos ver este ano Metallica pela 4ª vez seguida, os Pixies precisam de dinheiro e vão fazer mais uma digressão, até o grande Leonard Cohen admitiu que a última digressão (que passou por Portugal), foi pelo dinheiro, já que estava em bancarrota e os Rollling Stones juntaram os ossinhos e também estiveram por terras lusas em três anos seguidos. Esta é a nova fonte de rendimento do artista, impotente para vender o seu trabalho, mas ainda algum com poder de encaixe para poder ripostar.

Um dos problemas é que muitos dos artistas vêm-se forçados, ou então porque simplesmente querem, a cobrar elevadas quantias de dinheiro para vir ao nosso país por exemplo, mesmo quando esse artista é aclamado. Exemplos disso são os Green Day, R.E.M., Coldplay, Foofighters, que falharam o nosso país nas suas tournées europeias, após lançamento de álbuns de sucesso.

Outras das soluções passa pela cedência da música à publicidade, numa tentativa de publicidade mútua, eu vendo a minha “coisa” e tu vendes a tua. Sinceramente, considero esta última hipótese mais uma machadada naquilo que gostamos mais. Citando Eddie Vedder, “nós, enquanto músicos, temos tanto poder nas nossas mãos, que em vez de dizermos às pessoas para mudarem o mundo vamos dizer-lhes para comprarem um carro? Acho que não.”.

Só tempo dirá se haverá um equilíbrio que satisfaça toda a gente, mas desde que apenas a música sobressaia, que é o que realmente interessa.

E perante isto, o ouvinte depara-se com outro problema. O que fazer com tantos concertos em 2009? Desde Super Bock Super Rock, Sudoeste, Alive!, Marés Vivas, Paredes de Coura, Surf Fest e outros festivais e eventos de envergadura nacional, até aos concertos em nome próprio, o corrente ano, ao exemplo do anterior torna-se numa autêntica batalha para fazer esticar o orçamento. Diriamos que vivemos em crise? Eu cá acho que sim. Mas, se calhar as salas e recintos esgotados mostram que não! E ainda bem…

Sem comentários: